segunda-feira, 6 de junho de 2011

Deísmo

O deísmo é uma postura filosófica que admite a existência de um Deus criador, mas questiona a ideia de revelação divina. É uma doutrina que considera a razão como uma via capaz de nos assegurar da existência de Deus, desconsiderando, para tal fim, a prática de alguma religião denominacional.

O deísmo pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição.
 
Os deístas, geralmente, questionam as religiões denominacionais e seu(s) deus (es) dito(s) "revelado(s)", argumentando que Deus é o criador do mundo, mas que não intervém, nos afazeres do mesmo, embora esta posição não seja estritamente parte da filosofia deísta. Para os deístas, Deus se revela através da ciência e as leis da natureza.

É interessante dizer, que o conceito deísta de divindade não corresponde, necessariamente, ao que comumente a sociedade entende ser "deus". Ou seja, existem várias formas de se compreender aquilo que é, supostamente, transcendente ou sobrenatural.
 
Então, Deus pode ser compreendido como o princípio vital, a energia criadora ou a força motriz do Universo. Todavia, não propriamente como um ser antropomórfico. Tal representação é específica das religiões fundamentalistas, os quais o deísta não considera como sendo a verdade.

As raízes do deísmo estão ligadas aos antigos filósofos gregos, e sobretudo a filosofia aristotélica da primeira causa. Mais tarde este movimento floresce durante o Iluminismo, com o apoio de cientistas britânicos e italianos como Galileu Galilei e Isaac Newton.

As primeiras obras de Críticas a Bíblia, tais como Thomas Hobbes no Leviatã e Spinoza no Tratado Político Teológico, bem como obras de autores menos conhecidos, como Richard Simon e Isaac La Peyrère, pavimentaram o caminho para o desenvolvimento do deísmo crítico.
 
Edward Herbert, Lorde de Cherbury (1583-1648), é geralmente considerado como o "pai do deísmo inglês", e seu livro De Veritate (na verdade, It Is Distinguished from Revelation, the Probable, the Possible, and the False) (1624) a primeira grande demonstração do deismo.
 
Herbert apresentou os pontos básicos do deísmo que pode ser resumido na seguinte maneira: "Deus existe, e pode ser cultuado pelo arrependimento e por uma vida de tal modo digna, que a alma imortal possa receber a recompensa eterna em vez do castigo".

Outros deístas influentes, como Charles Bloynt (1654-1693), John Tolarndt](1670-1722), Lorde Shaftesbury (1671-1713) pregaram que o cristianismo não era um mistério e poderia ter sua autenticidade verificada pela razão; tudo o que não pudesse ser provado pela razão deveria ser descartado.
 
Entretanto, foi na época do Iluminismo no final do século XVII, que o movimento deísta atingiu o seu apogeu partir dos escritos de autores ingleses e franceses como Thomas Hobbes, John Locke, Jean Jacques Rousseau e Voltaire.
 
O mais famoso dos deístas franceses foi Voltaire, que adquiriu o gosto pela ciência newtoniana, e reforçou inclinações deístas, durante uma visita de dois anos a Inglaterra a partir de 1726.

Ao mesmo tempo, com a imigração de deístas ingleses, a divulgação dos escritos deístas e a difusão das ideias iluministas nas Treze Colônias contribuíram para popularizar o deísmo nos Estados Unidos, com os escritos dos norte-americanos, John Quincy Adams, Ethan Allen, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, James Madison, George Washington e, especialmente, Thomas Paine em seu livro A Idade de Razão.
 
Os princípios deístas, especificamente tiveram efeito sobre as estruturas política e religiosa dos Estados Unidos, tais como a separação entre Igreja e Estado e a liberdade religiosa.

O Deísmo, geralmente considerado como uma influente escola de pensamento, declinou em cerca de 1800. O termo deísta tornou-se raramente utilizado, mas as crenças deístas, suas ideias e influências não.
 
Elas podem ser vistos no século XIX na teologia liberal britânica e na ascensão do Unitarianismo, que adotou muitas das suas crenças e ideias. Mesmo hoje, há um número significativo de Web sites deístas.

Vários fatores contribuíram para um declínio geral na popularidade do deísmo, incluindo:
 
o surgimento, crescimento e propagação do naturalismo e do materialismo, que foram ateístas;
 
os escritos de David Hume e Immanuel Kant (e mais tarde, Charles Darwin), que aumentaram dúvida sobre o argumento da primeira causa e do Argumento Teleológico, transformando muitos (embora não todos) potenciais deístas ao ateísmo ou panendeísmo;
 
perda de confiança em que a razão e o racionalismo poderiam resolver todos os problemas;
 
críticas de excessos da Revolução Francesa;
 
críticas que o livre pensamento levaria inevitavelmente ao ateísmo;
 
uma campanha antideísta e antirrazão de alguns clérigos cristãos para caluniar o deísmo e equipará-lo com o ateísmo na opinião pública;
 
revivalismo de movimentos cristãos que afirmavam que uma relação pessoal com uma divindade era possível.
 
O deísta não necessariamente nega que alguém possa receber uma revelação divina, mas essa revelação será válida apenas para a pessoa que a recebeu (se realmente a recebeu).
 
Isto implica a possibilidade de estar aberto às diferentes religiões como manifestações diversas de uma mesma realidade divina, embora não crendo que nenhuma delas seja a "verdade".

Os deístas acreditam na possibilidade da existência de dimensões transcendentais. Contudo, não estão presos a nenhum tipo de mitologia ou dogma.
 
Frequentemente, os deístas se encontram insatisfeitos com as religiões denominacionais, e apresentam, geralmente, algumas afirmações que os diferenciam dos religiosos convencionais ou teístas.

Afirmações deístas
 
1- Admito uma existência divina, mas com características distinta de religiões.
 
2- Corroboro que a "palavra" de Deus são as leis da natureza e do Universo, não os livros ditos "sagrados" escritos por homens em condições duvidosas.
 
3- Uso apenas a razão para pensar na possibilidade de existência de outras dimensões, não aceitando doutrinas elaboradas por homens.
 
4- Creio que se pode encontrar Deus mais facilmente fora do que dentro de alguma religião.
 
5- Desfruto da liberdade de procurar uma espiritualidade que me satisfaça.
 
6- Prefiro elaborar meus princípios e meus valores pessoais pelo raciocínio lógico, do que aceitar as imposições escritas em livros ditos "sagrados" ou autoridades religiosas.
 
7- Sou um livre-pensador individual, cujas convicções não se formaram por força de uma tradição ou a "autoridade" de outros.
 
8- Acredito que religião e Estado devem ser separados;
 
9- Prefiro me considerar um ser racional, ao invés de religioso.
 
10- O raciocínio lógico é o único método do qual podemos ter certeza sobre algo.

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